GAZA de GARRY KEANE E ANDREW MACCONNELL | IRLANDA * CANADÁ | 2019 | DOCUMENTÁRIO | 01H32M | M/12
“Gaza” ganhou uma trágica e devastadora atualidade com a guerra na Faixa de Gaza. O termo “atualidade” não tem muito sentido nesse contexto – o presente, sofrimento e limiar de morte, é um estado constante para os moradores da Faixa: o passado é sempre atual e o futuro sem perspectivas. Trata-se de um território carregado de temporalidades que se superpõem, bíblicas e coloniais pós-século XIX: por isso mesmo, um território carregado de clivagens, de fragmentos que se dispersam e retornam, infinitamente. O filme, organizou-se com o objetivo explícito de mostrar a vida naquele enclave de forma a evitar as imagens habituais veiculadas no tempo exíguo da imprensa, ou seja: pobreza, tragédia e destruição, civis mortos e feridos (crianças sobretudo) e soldados mascarados. Tampouco comentários sociológicos são enfatizados: poucas palavras sobre o alto contingente de jovens sem emprego, nem mesmo sobre a ascensão política do Hamas. O desenho de uma prisão aberta e exposta ao sol, contudo, vai pouco a pouco contaminando esse olhar complacente europeu. O mar, fonte de alimentos e metáfora espacial dos limites existenciais, funciona também como recreação e suporte para imagens clichês de pôr do sol – e é olhando para o mar que a celista se queixa dos estrangeiros: a única coisa que nos dão é simpatia. O velho pescador lembra ações perpetradas pelas patrulhas israelitas; jogam esgotos nos que se aventuram a pescar fora do limite permitido de 10 quilômetros de mar, quando não prendem os aventureiros (seu filho apanhou dois anos de prisão por essa ousadia). Estamos, ao que parece, numa zona de guerra vazia, plena de pequenas tensões e humilhações – e perigosamente instável.