Quinta-feira | 14 de Novembro 2024
AYKA de Sergey Dvortsevoy | Rússia, Alemanha, Polónia, China, França e Cazaquistão | 2018 | Ficção | 1h40 |M/16
Realizado por Sergey Dvortsevoy, o filme acompanha Ayka, uma jovem imigrante oriunda do Quirguistão, que vive e trabalha irregularmente em Moscovo. Numa situação de pobreza extrema, Ayka tenta sobreviver ao frio da cidade, às precárias condições de habitação e aos abusos laborais a que é constantemente sujeita. Para além da luta pela sobrevivência, Ayka é ainda confrontada com as difíceis decisões pessoais que vai tomando ao longo do percurso. O filme retrata temas de exploração, xenofobia, desigualdade, misoginia e maternidade, e constitui um retrato cru e implacável da vida de imigrantes no contexto das sociedades atuais.
Sexta-feira | 15 de Novembro 2024
MICARzinha | Manhã | Sessões para os 1ºe 2º ciclos e Secundário
CIRCLE de JOUNG YUMI | Coreia do Sul | 2024 | Animação/Curta-metragem | 0h07m, M/6
ZOO de TARIQ RIMAWI | Jordânia | 2022 | Animação/Curta-metragem | 08m | M/6
WAY OF GIANTS de ALOIS DI LEO | Brasil | 2016 | Animação/Curta-metragem | 12m | M/6
NAILA AND THE UPRISING de JULIA BACHA | EUA/Palestina | 2017 | Animação/Documentário | 1h16m | M/12
THE DUPES de Tewfik Saleh | Síria, 1972, ficção, 1h47m, M/12
Baseado no romance Men in the Sun (1963), de Ghassan Kanafani, The Dupes conta a história de três refugiados palestinianos após a Nakba de 1948 — três gerações de homens que, em busca de um futuro melhor, partem da Palestina para o Iraque, com o objetivo de chegar ao Kuwait, “a terra prometida”, onde poderão imaginar uma vida melhor, em liberdade e com trabalho digno. Juntos, contratam os serviços de um camionista/contrabandista, que os guia pelo deserto num camião-cisterna, onde se vão escondendo num depósito de água vazio. À medida que avançam pela vastidão árida, o medo e as dúvidas instalam-se, em compasso com o sol, entre o divino e o político.
The Dupes, obra de um cinema de resistência, é um dos mais recentes filmes resgatados e restaurados pelo World Cinema Project (The Film Foundation), num trabalho feito em colaboração entre a Cinemateca de Bolonha e a própria família do realizador.
NO OTHER LAND de Basel Adra, Yuval Abraham, Hamdan Ballal, Rachel Szor | Palestina | Noruega, 2024, documentário, 1h32m, M/16
Basel Adra, um jovem ativista palestiniano de Masafer Yatta (Cisjordânia), luta desde a infância contra a expulsão em massa da sua comunidade pela ocupação israelita, documentando a erradicação gradual das aldeias da sua região natal, onde soldados enviados pelo governo israelita vão demolindo casas e expulsando os residentes. Jovem adulto, Basel conhece Yuval Abraham, um jornalista israelita decidido a apoiá-lo na sua luta e a expor a realidade do dia a dia da sua comunidade. Surge, assim, uma aliança improvável, marcada pela enorme desigualdade que os separa: Basel vive sob ocupação militar, enquanto Yuval vive livremente e sem restrições.No Other Land, realizado através da força conjunta entre palestinianos e israelitas, por um coletivo composto por quatro jovens ativistas, foi criado como um ato de resistência criativa no caminho para uma maior justiça. O filme demonstra a coragem e a força da solidariedade entre um povo oprimido e aqueles que recusam ser opressores.
Sábado | 16 de Novembro 2024
Manhã | Sessão Famílias
THE TOWER de Mats Grorud | França/Noruega/Suécia, 2018, Animação, 1h14m, M/12 (AP)
Beirute, Líbano, hoje. Wardi, uma menina palestiniana de onze anos, vive com toda a sua família no campo de refugiados onde nasceu. Sidi, o seu querido bisavô, foi um dos primeiros a instalar-se ali depois de ter sido expulso da sua aldeia em 1948. No dia em que Sidi lhe confia a chave da sua antiga casa na Galileia, Wardi teme que ele tenha perdido a esperança de regressar. Mas como pode cada membro da família, à sua maneira, ajudar a menina a reencontrar essa esperança?
THREE THOUSAND NUMBERED PIECES de Ádám Császi | Hungria, 2022, ficção, 1h36m, M/12
Um encenador húngaro branco ensaia uma peça com cinco jovens atores de etnia cigana, contando as suas histórias reais de abuso, dependência de drogas e criminalidade. No entanto, em vez de representar a verdade das suas experiências, a peça transforma-se numa exploração e ampliação das suas dores. O grupo decide abandonar o projeto, mas descobre que o espetáculo já foi vendido ao maior teatro de Berlim — onde, um por um, os 3.000 alicerces da casa de uma família cigana são transportados da Hungria para o palco na Alemanha. Os ensaios transformam-se, então, numa exploração surreal do racismo e da culpa branca, esbatendo as fronteiras entre ficção e realidade.Three Thousand Numbered Pieces, obra irónica e disruptiva, faz uma declaração urgente e gritante contra a injustiça, o preconceito e a discriminação em relação ao povo cigano, a maior minoria ética da Europa, numa combinação entre o cinema, o teatro e o musical, num filme pautado pelo humor negro e sarcasmo.
TIME TO CHANGE de Pocas Pascoal | Portugal, Angola, 2024, experimental, 6m, M/12
Em Time to Change, a realizadora e argumentista angolana Pocas Pascoal lembra-nos que é hora de mudar, propondo um olhar sobre o colonialismo, o capitalismo e o seu impacto na biodiversidade global. Observamos que a destruição do ecossistema remonta a um tempo anterior, estando já em curso através das ações de exploração da terra, da caça grossa e da exploração do homem pelo homem.
Estamos perante uma experiência que, se nos atira para as partidas de Chris Marker, nos lembra também dos mais recentes gestos de Billy Woodberry, numa arqueologia da verdade, através de arquivos coloniais. São estas imagens a olhar para si mesmas que, em Time to Change, se ampliam ainda mais com a tensa composição sonora de Herlander.
MONUMENTO CATÁSTROFE de Left Hand Rotation | Portugal, 2023, documentário, 66’, todos
Monumento Catástrofe é um road movie, em Portugal. Uma viagem pelos espaços da catástrofe, num movimento contra a dupla paralisia do desespero e da indiferença. Transita entre as histórias contidas nos monumentos, em memória das mortes coletivas e expande o olhar sobre o acontecimento para além da sua capacidade disruptiva, revelando a catástrofe como manifestação de um processo em curso, o Capitaloceno.
Muitas vezes visto como elemento ornamental, o monumento público à catástrofe está carregado de ideologia e valores funcionais, servindo mais a legitimação do poder estabelecido do que a reparação das comunidades afetadas pelas catástrofes. Esta função é evidente no caráter seletivo da homenagem à memória, mas também na prática do esquecimento, que classifica a tragédia de acordo com a qualidade das vítimas, evita deliberadamente a interpelação às atrocidades do Ocidente e modifica a simbologia destas esculturas, para acompanhar a evolução ideológica nos territórios em que foram erigidas.
BYE BYE TIBERIAS de Lina Soualem | França, Palestina, Bélgica, Qatar, 2023, Documentário, 82 min, M/12′
“Bye Bye Tiberias” explora a intersecção entre as dimensões individuais e colectivas, familiares e históricas da identidade. Lina Soualem, combina registos de imagem e texto, pessoais e íntimos, com material de arquivo e elementos da história da Palestina no contexto e sequência da imposição territorial do Estado de Israel. O filme desvenda a história das três gerações de mulheres que antecedem a realizadora, enquanto esta acompanha a sua mãe, a actriz Hiam Abbass, no processo de revisitar a decisão de abandonar Deir Hanna, na Galileia, aos 23 anos, para seguir uma carreira na Europa. O documentário biográfico aborda as dificuldades de preservar a memória e a identidade e de as resgatar da encruzilhada entre dois territórios, geográficos, culturais e existenciais, numa oposição que se afigura eterna e insuperável. É um testemunho profundo e sensível sobre a violência do deslocamento e apagamento provocados pela ocupação e genocídio; ao mesmo tempo, afirma a força da resistência feminina e palestiniana.
GAZA de GARRY KEANE E ANDREW MACCONNEL | IRLANDA * CANADÁ | 2019 | Documentário | 01h32m | M/12
“Gaza” ganhou uma trágica e devastadora atualidade com a guerra na Faixa de Gaza. O termo “atualidade” não tem muito sentido nesse contexto – o presente, sofrimento e limiar de morte, é um estado constante para os moradores da Faixa: o passado é sempre atual e o futuro sem perspectivas. Trata-se de um território carregado de temporalidades que se superpõem, bíblicas e coloniais pós-século XIX: por isso mesmo, um território carregado de clivagens, de fragmentos que se dispersam e retornam, infinitamente. O filme, organizou-se com o objetivo explícito de mostrar a vida naquele enclave de forma a evitar as imagens habituais veiculadas no tempo exíguo da imprensa, ou seja: pobreza, tragédia e destruição, civis mortos e feridos (crianças sobretudo) e soldados mascarados. Tampouco comentários sociológicos são enfatizados: poucas palavras sobre o alto contingente de jovens sem emprego, nem mesmo sobre a ascensão política do Hamas. O desenho de uma prisão aberta e exposta ao sol, contudo, vai pouco a pouco contaminando esse olhar complacente europeu. O mar, fonte de alimentos e metáfora espacial dos limites existenciais, funciona também como recreação e suporte para imagens clichês de pôr do sol – e é olhando para o mar que a celista se queixa dos estrangeiros: a única coisa que nos dão é simpatia. O velho pescador lembra ações perpetradas pelas patrulhas israelitas; jogam esgotos nos que se aventuram a pescar fora do limite permitido de 10 quilômetros de mar, quando não prendem os aventureiros (seu filho apanhou dois anos de prisão por essa ousadia). Estamos, ao que parece, numa zona de guerra vazia, plena de pequenas tensões e humilhações – e perigosamente instável.
Domingo | 17 de Novembro 2024
NÓS NÃO VIEMOS DO VAZIO de Carla Fernandes | Portugal | 2024 | Documentário, | 36 min | M/12
Curta-metragem documentário que regista a presença longínqua da população afrodescendente na cidade de Lisboa. Tem ponto de partida no(s) espaço(s) físico(s) da cidade, visibilizando o seu passado, da memória colonial que se continua para os dias de hoje, mas que também sempre se acompanhou e acompanha da (re)apropriação dos espaços pela população afrodescendente. Reúne testemunhos de cidadãos, artistas e agentes culturais, académicos, políticos e ativistas, que foram colhidos em plena Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) da ONU, cujo tema era “reconhecimento, justiça e desenvolvimento”.
TANTURA de Alon Schwarz | Israel, 2022, documentário, 1h43m, M/12
Quando o Estado de Israel foi estabelecido em 1948, a guerra eclodiu e centenas de aldeias palestinianas foram despovoadas. Israel reconhece este evento como a Guerra da Independência, enquanto que para o povo palestiniano esta é a Nakba (a Catástrofe). Tantura conta a história de uma dessas aldeias: no final da década de 1990, um estudante de pós-graduação, Teddy Katz, conduziu uma pesquisa sobre um massacre em larga escala que supostamente ocorreu em Tantura, em 1948. O seu trabalho enfrentou ataques e censura, e sua reputação foi arruinada — mas mais de cem horas de testemunhos em áudio permanecem. Esses arquivos desenterram agora a memória e confrontam a violência dos seus perpetradores.
Entre a negação e a aceitação, Tantura é um “documento de terapia coletiva” que explora os efeitos psicológicos da violência e dos seus autores.
R21 AKA RESTORING SOLIDARITY de Mohanad Yaqubi | Palestina/Bélgica/Qatar, 2022, Documentário, 1h11m, M/12
21 aka Restoring Solidarity é um filme-documentário realizado pelo artista e cineasta palestiniano Mohanad Yaqubi, construído essencialmente através do encontro e da combinação de um acervo de 20 filmes de 16 mm, produzidos entre as décadas de 1960 e 1980, guardados em Tóquio por um grupo de ativistas japoneses solidários com a causa palestiniana. É também a história de uma carta de solidariedade – editada, fragmentada e revelada ao longo de R21 – de um ativista japonês que nunca chegou a ser entregue ao destinatário, um cineasta palestiniano. Este é um exercício artístico, de grande sensibilidade, de resistência e de construção de memória coletiva, que olha para documentos do passado, via revisitação militante no presente, tendo o arquivo como matéria essencial, mas também o arquivo como método, dispositivo, tecnologia e músculo. Através do arquivo restauram-se documentos, constroem-se narrativas e estabelecem-se relações de solidariedade intergeracional. Este é um filme que recusa procedimentos neutros e que não apaga violência concreta.
BIG BANG HENDA de Fernanda Polacow | Portugal | 2023 | documentário | 0h21 | M12
Big Bang Henda é um documentário-poesia-manifesto que mergulha na obra do artista angolano Kiluanji Kia Henda, explorando as suas reflexões sobre o passado colonial e as possibilidades de um futuro descolonizado. Através de suas criações, Henda convida-nos a reimaginar a história ao derrubar símbolos de opressão e construir novas memórias coletivas. O filme navega pelas questões de identidade e poder, abordando como as gerações que viveram durante e após a guerra ressignificam estes traumas históricos. Com uma abordagem visual e narrativa profundamente poética, Big Bang Henda não é apenas uma obra sobre a arte, mas um apelo à ação, incitando-nos a refletir sobre o nosso próprio papel na desconstrução do passado e na edificação de um futuro mais justo.
PALIMPSEST OF THE AFRICAN MUSEUM de Matthias De Groof | Bélgica | 2019 | documentário | 1h09 | M12
Palimpsest of the Africa Museum é um documentário que explora a renovação do Museu Real da África Central, na Bélgica, através do olhar atento de Billy Kalonji, presidente da organização da Diáspora Africana na Bélgica (COMRAF). Mais do que uma simples remodelação arquitetónica, o filme revela a transformação profunda do museu enquanto símbolo do passado colonial. Durante este processo, são levantadas questões fundamentais: Quem tem o direito de contar a história africana? Como se reconciliam memórias coloniais com uma visão moderna e inclusiva? O documentário acompanha debates intensos sobre a descolonização do museu, expondo as tensões entre preservação e reinvenção. Palimpsest of the Africa Museum desafia o espectador a confrontar o peso da história e a participar na construção de um futuro onde o património africano seja visto e valorizado sob uma nova luz.